VÃO INCENDIAR O CONGRESSO?

incêncio

“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!” (Carlos Bolsonaro, o “Carluxo”, filho de Jair Bolsonaro, via Twitter, em 10 de setembro de 2019).

A (mais uma vez!) repugnante declaração de Carlos Bolsonaro, o filho de Presidente, de que as transformações que ele e sua turma desejam ( e não o Brasil) não poderão acontecer na velocidade em que pretendem se forem através das vias democráticas pode, com certeza, ser chancelada por toda a família Bolsonaro. Eles sempre desprezaram a democracia, defenderam os governos tirânicos e militares e o ídolo deles é um torturador assassino. Evidentemente a declaração, tratando-se de quem vem, não pode ser interpretada como alguém que conhece e aceita as regras do jogo democrático. Claro que qualquer mudança pela via democrática é mais lenta, porque requer debates no Congresso e na sociedade. Isso sem contar com a viabilidade legal, e aí o Judiciário também deve pronunciar-se. É assim o funcionamento das instituições em uma democracia.

Desde a sua posse, Bolsonaro e sua família atentam contra a democracia. Ameaças ao Supremo Tribunal, ao Congresso e a todas as instituições representativas da sociedade, sejam elas sindicais, culturais, científicas, LGBTs, etc. Mas a democracia vem resistindo a todas as investidas, desde a ameaça “do cabo e do soldado”, no caso do Supremo, até a tentativa de Bolsonaro de “virar a mesa” em uma medida provisória rejeitada no Congresso e que ele tentou mesmo assim reeditar.

A nauseante afirmação de Carlos Bolsonaro teve a repulsa da direita liberal, como os presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, e também, mais uma vez, do Vice-Presidente Hamílton Mourão, talvez o único membro do atual governo que, desde a posse, vem tendo uma postura de estadista.

Já falamos, em outro momento, das incríveis semelhanças entre a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, e de Bolsonaro no Brasil, quando publicamos, em 9 de outubro de 2018, um artigo em que falávamos da possibilidade de um autogolpe após as eleições, intitulado “Fujimori e o Reich Tupiniquim”. Para quem não lembra ou não leu, aí vai o link;

https://pedropaulorasgaamidia.com/2018/10/09/fujimori-e-o-reich-tupiniquim/

Observávamos, na ocasião, as inúmeras semelhanças entre Hitler e Bolsonaro (ambos ex-militares, que apoderaram-se de um minúsculo partido e o transformaram em grande, que souberam se aproveitar das crises econômicas em seus países e do descrédito dos partidos e políticos tradicionais, ambos militaristas, que invocavam Deus em seus discursos, apresentavam-se como savadores da Pátria e que venceram as eleições pelas regras democráticas). Mas, e depois? Hitler tornou-se um ditador, como todos sabemos, derrubando as próprias escadas da democracia pelas quais ele subiu ao poder. Mas na época de Hitler, faltava uma tragédia que não fosse particular e, quem sabe, fizesse lembrar Nero na época da perseguição aos cristãos? Que tal, então, tirar proveito de um incêndio? Tão logo o líder nazista chegou ao poder, em 1933, o Reichstag (Parlamento alemão), foi totalmente destruído por um incêndio. Para Hitler, o incêndio não passava de uma “conspiração comunista”. Então, a Gestapo (polícia política de Hitler) prendeu um jovem holandês, que era comunista, acusando-o de ter sido o autor do fogaréu. Sob as mais terríveis torturas, o rapaz afirmou ter agido sozinho, mas a versão seria a de que foi uma “conspiração comunista”. Mais de 60 anos depois, a versão oficial foi desmentida por um ex-oficial nazista, com a descoberta de um documento datado de 1955, encontrado no Tribunal de Hanover, que confirma a versão fajuta dos nazistas para acabarem com a democracia e tirar o nazismo de dentro do armário.

Na era Bolsonaro, as coisas vão se caminhando de um modo muito análogo. Depois de todas as coincidências, parece que a democracia ainda reluta, e muito, para resistir, e vem resistindo, às tentativas de um retrocesso sem precedentes. Na Alemanha, o incêndio ao Parlamento acabaria sendo o passaporte para a ditadura nazista e o cartão vermelho para a democracia.

A cada declaração de desprezo aos valores democráticos, seja por parte de Bolsonaro ou de seus filhos, inflama-se ainda mais o país, pois ao mesmo tempo eles incentivam suas hostes neofascistas e produzem reações de repúdio. A narrativa de conspiração, que vem desde a eleição, com a permanente dúvida sobre as urnas eletrônicas que o elegeram, levou Bolsonaro a sempre buscar, por si ou pelo seu filho Carlos, seu porta-voz de fato, alguma brecha para um autogolpe. Fiquemos atentos, pois ainda falta uma coincidência entre a Alemanha de 1933 e o Brasil atual. Que tal um incêndio no Congresso Nacional? Talvez a brigada de incêndio do Congresso Nacional e o Corpo de Bombeiros de Brasília devam ficar de sobreaviso. Será que depois de mais essa declaração ofensiva à democracia, poderá surgir em cena um “novo Adélio”? E quem sabe, dessa vez, um Adélio incendiário?

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