CORRE, CRIVELLA, CORRE…

censuradoOs heróis do Clube Marvel certamente já não são mais os mesmos e é possível que qualquer dia surja uma versão do Capitão América “anti-Trump”, que muito certamente seria censurada pelo Bolsonaro. E que tal o príncipe Namor ressurgir na pele de um negro chamado João Cândido, o marinheiro que até hoje causa calafrios nos almirantes? Dar ressignificações a protótipos pode, muitas vezes, ser o viés educativo dos quadrinhos. Outros super-heróis, de outros significados, podem igualmente ser desconstruídos, como Batman e Robin. Batman não passa de um justiceiro que age na base do “bandido bom é bandido morto”. Como seria um “novo Batman” defendendo os direitos humanos, e nem por isso, deixando de fazer justiça? Quanto a ser gay, se aquela narrativa que ficou muito famosa for mesmo verdadeira, já passou da hora de ele se assumir com o menino prodígio (para tristeza da Mulher Gato).

O Brasil vive a era do fundamentalismo. A ordem unilateral e sem qualquer respaldo judiciário dada pelo bispo que governa a cidade do Rio de Janeiro de mandar recolher os exemplares da história em quadrinhos “Os Vingadores – A Cruzada das Crianças”, em plena Bienal do Livro, é mais um recorde vergonhoso para a cidade que, outrora vanguarda política do país, agora cai nas mãos de visionários messiânicos e neopentecostais. Crivella já havia censurado museus em 2017, quando uma onda neofascista, que vinha de Bolsonaro, explodiu no país à caça de artistas. Até os meninos “bem comportados” do MBL entraram nessa. Os professores também são alvos constantes da sanha dessa gente. Seguidores fanáticos de Bolsonaro já sugeriram que os livros de Paulo Freire fossem queimados em praça pública, juntamente com um boneco que o representasse. Pouco antes da censura na Bienal do Livro decretada pelo bispo da Universal, Bolsonaro já havia imposto a censura à Ancine e Dória já havia mandado recolher livros didáticos em São Paulo.

No caso da censura imposta por Crivella, a causa foi a ilustração da obra “Os Vingadores”, que mostra um beijo gay entre dois meninos. Crivela invocou a “defesa à família”. Que família? Assim como os heróis Marvel e Batman e Robin podem não ser mais os mesmos, a família já é muito diferente daquela que nós conhecíamos há tempos. A lei hoje reconhece em nosso país famílias homoafetivas com dois pais ou duas mães. Incentivar a sexualidade nas crianças? Mas e se fosse um beijo entre um menino e uma menina, também não haveria o incentivo à sexualidade? Ou esse incentivo só acontece se for entre pessoas do mesmo sexo? Claro que é homofobia pura.

A ordem de Crivella, ao mandar fiscais da Secretaria de Ordem Pública invadirem a Bienal para recolher os livros cumprindo a censura por ele imposta, ultrapassou as fronteiras e chegou ao ilustrador do livro, o britânico Jim Cheung. O desenhista ficou surpreso com a atitude de Crivella, até porque o livro já foi publicado há quase dez anos. Se o ilustrador ficou surpreso, como carioca ficamos envergonhados. Depois de endemoniar o Carnaval e censurar exposições de arte, agora, desrespeitando a Constituição, Crivella acrescenta mais uma obra ao seu “índex” fundamentalista. Quando os fiscais da “Cruzada” chegaram ao Riocentro, o livro que era alvo da busca inquisitorial dos censores já havia se esgotado. Parece que muitas famílias gostaram do livro…

Mas muita água ainda deve rolar debaixo dessa ponte. O que Estrela Polar, Colossus, Batwoman, Daken, Lanterna Verde, Homem de Gelo, Apolo e Meia Noite possuem em comum, além de serem heróis ou personagens de quadrinhos? Eles são gays! Corre, Crivella, corre… A Bienal termina amanhã e muitas famílias devem estar ameaçadas…

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