“Eu vou embora do Brasil.” (Jair Bolsonaro, a um interlocutor, em 26 de agosto de 2019, em uma reunião a portas fechadas).
Pode ter sido apenas um desabafo, algo tipo um rompante em um momento de fúria. Pode ter sido um prenúncio. Pode ter sido um blefe ou, quem sabe, uma chantagem “à la Jânio Quadros”? Mas a afirmação de Jair Bolsonaro, de que vai embora do Brasil, levando-se em conta o estilo do Presidente, só não pode ser considerada algo sem sentido na atual conjuntura.
A afirmação chega em uma hora em que as pesquisas mostram (mais uma) queda estrondosa de sua popularidade. Segundo a CNT/MDA, divulgada na semana passada, o índice de aprovação ao governo Bolsonaro, que era de 57,5% em fevereiro, caiu para 41%. Já a desaprovação foi de 28,2% para 53,7%. Isso em apenas 6 meses. O que a pesquisa mostra, pela grande elevação da desaprovação, é que nesses 53,7% que o desaprovam, estão muitos de seus eleitores em 2018.
Jair Bolsonaro vem dando provas de fraquezas sob vários aspectos, o que não nos surpreende. Manter a metralhadora giratória e um discurso de ódio, cultivando um ambiente de eterna campanha eleitoral, como se o país fosse uma arena, só tem inflamado os ânimos de seu nicho radical, fascista e que não tem compromisso com as instituições. Ele só vem perdendo apoio, até no próprio partido que comprou para formalizar sua candidatura. No Congresso, ele tem sido enquadrado e a reforma da previdência, encomendada pelo mercado, vai sendo aprovada sem sua participação, a não ser cooptando o “Centrão”. Escândalos financeiros envolvendo toda sua família, de Flávio a Michelle, fazem com que ele queira interferir no COAF e Polícia Federal, exibindo uma nítida falta de compromisso com a transparência. O ministro que simbolizaria a “redenção” do Brasil virou pó com o lamaçal divulgado pela Vaza Jato e um estorvo para o próprio governo. Hoje, Bolsonaro e Moro são como dois jogadores de pôquer em uma mesa minada e onde um não confia no outro, apesar das aparências que não enganam. O desastre ambiental da Amazônia (Bolsonaro jamais teve uma pauta ambiental e sempre falava que tudo aquilo era papo de “índios vagabundos”, “esquerdopatas” e “ongueiros”), colocou-o na berlinda do mundo e, como representante oficial do Brasil, ele abriu frentes de confronto valendo-se das baixarias que sempre o caracterizaram. Parece que a França já foi para o “Eixo do Mal bolsonarista”, junto com Cuba e Venezuela. Reações da sociedade aos cortes na educação, aos ataques ao meio ambiente, às agressões à ciência e a uma agenda que não contempla o Brasil vem transtornando Bolsonaro em sua fracassada tentativa de ser ditador.
Talvez a fala de Bolsonaro seja a culminância de seu fracasso, em todas as empreitadas. Ele foi um militar fracassado, tendo que deixar cedo a caserna por motivos disciplinares. Ele foi um terrorista fracassado, pois não conseguiu lançar, como queria, as bombas nos quartéis. Ele foi um deputado fracassado, sem qualquer influência nas decisões do Congresso, sem qualquer projeto e de um baixíssimo clero onde sua voz raivosa só era forte para ofender mulheres, índios, negros e homossexuais. E agora, fracassado como Presidente, vai isolando-se cada vez mais, inclusive no panorama mundial restando, ao que parece, apenas o Trump para usá-lo como lambedor de botas.
A hipótese de uma “chantagem à la Jânio Quadros” também não pode ser descartada. Mas é preciso lembrar que, na ausência de Bolsonaro, não teremos um “Jango” e sim um general de direita que, ao contrário de Bolsonaro, modulou seu discurso após a campanha e que seria muito bem-vindo ao “mercado”. Mas a hipótese não pode ser descartada. Se chutar o balde, seu “game over” poderá incitar suas hostes mais radicais que, apesar de minoria, são ruidosas. O país poderia incendiar e as instituições serem postas a uma literal “prova de fogo”. O interlocutor da fala de Bolsonaro disse que, indagado sobre quem levaria, Bolsonaro falou que “por ser hétero, só levaria sua mulher”. Pode até ser. Mas, com o Brasil incendiando, o sonho e a profecia de Aécio é que se realizariam. Outro fracasso na conta, táoquei?