“Vamos acabar com o cocô do Brasil. O cocô é essa raça de corruptos e comunistas.” (Jair Bolsonaro, em visita ao Piauí, em 14 de agosto de 2019).
Em recente visita ao Piauí ou, na “geografia bolsonarista”, à “Paraíba”, Jair Bolsonaro, eternamente em campanha, falou aos seus ensandecidos seguidores que vai “acabar com o cocô do Brasil”. E que o “cocô” são os “comunistas e corruptos”. Disse ainda, sempre sendo chamado de “mito” pelos seus séquitos, que nas próximas eleições mandará “essa cambada para a Venezuela ou para Cuba”. Mas parece que quem se antecipou foi o presidente de seu próprio partido, o PSL, deputado Luciano Bivar. E Bivar, presidente do partido de Bolsonaro, não foi nem para a Venezuela e nem para Cuba e preferiu ficar por aqui mesmo para encontrar-se com o dirigente do Partido Comunista Chinês, Li Jun. O embaixador chinês também esteve presente ao encontro. A agenda do encontro, pasmem, incluía “estreitamento dos laços partidários” e “trocas de experiência de governança”. Falou-se também do BRICS. Porém, certamente na avaliação de Bolsonaro o presidente de seu próprio partido foi encontrar-se com dois “cocôs”, visto que os interlocutores de Bivar são comunistas.
O guru de Richmond e auto-proclamado “filósofo” Olavo de Carvalho, o “Rasputin” do governo Bolsonaro, certamente não deve ter gostado nem um pouco do encontro de Bivar com o “cocô” chinês e muito provavelmente, tal como Bolsonaro, deverá disparar a sua metralhadora giratória, recheada de provérbios escatológicos, contra o presidente do partido de Bolsonaro.
Evidentemente, o encontro simboliza uma antítese do alinhamento político-ideológico do governo Bolsonaro, declaradamente ancilar do governo de Donald Trump. Especialmente num momento em que a guerra comercial China-Estados Unidos atinge o seu auge, esse encontro sinaliza que o PSL, através de seu representante legal caminha, ao contrário de Bolsonaro e seus séquitos extremistas, para o diálogo com quem pensa diferente. Pode ser um recado da cúpula do partido ao próprio Bolsonaro, com a singela mensagem de que a política é o espaço onde se discutem e se negociam as diferenças. Sem que seja necessário banir ou exterminar os que pensam diferente, como sempre diz Bolsonaro.
Aliás, as defecções no PSL, em relação à agenda bolsonarista, já são visíveis. Alexandre Frota, recém-deletado do partido, e Janaína Paschoal, ainda no PSL, não são os únicos exemplos. A China é uma grande e importante parceira comercial do Brasil e Bolsonaro comete, dentre outros, um grande estelionato eleitoral (claro, enganando seus próprios eleitores), pois, durante a campanha, afirmou que não tomaria medidas com “viés ideológico”. Mas tudo o que faz, desde a “diplomacia com armas”, passando pela educação, segurança e meio ambiente, é sim com viés ideológico ultra-direitista e excludente. Resta saber se, em uma eventual celebração de acordo com os chineses, que são comunistas, Bolsonaro também irá chamá-los de “cocôs”. Ou, quem sabe, usaria um eufemismo, classificando os camaradas chineses como “cocôs, abertos ao mercado”…