“É só você deixar de comer menos um pouquinho. Você fala para mim em poluição ambiental. É só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também.” (Jair Bolsonaro, em 9 de agosto de 2019, propondo uma verdadeira “cruzada cívica” em defesa do meio ambiente).
Eu pensava que João Figueiredo, o general de plantão no governo brasileiro entre 1979 e 1985, fosse o recordista em falar asneiras publicamente, especialmente ao ser entrevistado. Certa vez, em uma entrevista, o general disse “preferir o cheiro dos cavalos do que o cheiro do povo”. Em outra oportunidade, falou que “prendia e arrebentava” quem fosse contra a “abertura”. E, no dia de um Grande Prêmio Brasil, no Jockey Club, afirmou que “não colocaria o dele em pata de cavalo”, embora Figueiredo fosse oriundo da cavalaria. Mais do que lamentáveis, as afirmações de Figueiredo beiravam o ridículo e faziam a liturgia de um Presidente da República ir para o beleléu.
O festival de asneiras que vem marcando o governo Bolsonaro, capitaneado pelo próprio Presidente, parece não ter fim e constatamos que Figueiredo era apenas “fichinha”, se comparado a Bolsonaro, quando se trata de proferir as asneiras mais atrozes. Agora, foi a receita bolsonarista para a preservação do meio ambiente. “É só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também”, disse Bolsonaro em entrevista. Primeiro, foi o ministro “pro forma” das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, falar que “o aquecimento global é uma conspiração comunista”. Não, Ernesto Araújo não estava brincando e depois ele corroborou sua conjectura “científica”, ao afirmar que não existe aquecimento global porque ele foi na Itália e lá estava frio. Dá até saudades das besteiras do Figueiredo.
Agora, basta fazer cocô dia sim, dia não, para que o meio ambiente seja preservado. Não sei se os nossos bichinhos de estimação conseguirão seguir a recomendação do Presidente. Os bebês de colo e crianças pequenas talvez também não possam colaborar com o “cocô cívico e consciente de Bolsonaro”. E aqueles que estiverem sofrendo de desinteria e não puderem dar a sua cota de colaboração para a preservação ambiental? É possível que Bolsonaro e seu ministro do meio ambiente, aquele mesmo que poluiu o rio Tietê, providenciem uma medida provisória para regulamentar a questão do cocô, dada a relevância e o primor epistemológico-metodológico da conjectura científica de Bolsonaro.
Mas entendemos que o próprio Presidente, a maior autoridade do país, deva ser o primeiro a dar o exemplo nessa grande cruzada cívica em prol do meio ambiente. Assim, seguindo a sugestão do próprio Presidente, que tal Bolsonaro falar dia sim, dia não? Isso melhoraria bastante a nossa vida também.