BOLSONARO, OAB E O CAMINHO DOS OSSOS

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“Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro” (Jair Bolsonaro, em 29 de julho de 2019, sobre o desaparecimento, na época da ditadura militar,  de Fernando Augusto de Santa Cruz, pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz).

A deprimente frase de Jair Bolsonaro “quem procura osso é cachorro”, referindo-se aos familiares dos desaparecidos políticos da época da ditadura militar não é recente. Desde 2005 esta frase já estava estampada na entrada de seu gabinete quando ele era deputado federal. Tripudiar dos parentes dos desaparecidos pela ditadura que ele sempre apoiou sempre foi o modus operandi do fascista Bolsonaro. Mas, além de tripudiar de adversários assassinados pelo regime que defendeu, Bolsonaro também procura desqualificar tudo o que representa a luta pela democracia, pelos direitos humanos e pela liberdade de pensamento. E um dos alvos da hidrofobia fascista de Bolsonaro é a OAB, instituição que destaca-se na luta pela democracia no Brasil.

A fala deplorável e criminosa de Bolsonaro, na última segunda-feira, dia 29 de julho, chocou até setores da direita liberal que o apoiaram. Primeiro, ele desdenhou a OAB, ao perguntar “quem é a OAB?” Antes, Bolsonaro já havia perguntado “para que serve a OAB?”  Não satisfeito pelo fato de a OAB garantir o direito legal de sigilo entre o advogado de Adélio Bispo (o autor da “facada santa”) e seu cliente, direito este garantido pela Constituição, Bolsonaro então passou a assacar e tripudiar do desaparecimento do pai de Felipe Santa Cruz, Fernando Augusto de Santa Cruz, um dos desaparecidos políticos da ditadura militar, em 1974. Jamais o corpo do pai do Presidente da OAB, chamado de “sanguinário” por Bolsonaro (embora nunca tenha pego em armas) foi encontrado e Bolsonaro, em mais uma de suas transtornadas, insanas e deploráveis declarações disparou, em entrevista coletiva:

“Se ele quiser saber como o pai dele sumiu, eu conto. É que minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento.” 

Bolsonaro acrescentou que a “vivência” dele o fez chegar a essas conclusões. Já que Bolsonaro mostrou-se sabedor de tanta coisa, seria bom que ele esclarecesse de vez tudo o que sabe. Assim, não precisaríamos mais esperar a revelação de documentos, até então sigilosos da CIA, que comprovaram, por exemplo, que Geisel, o “general-presidente da abertura política”, havia ordenado a execução de opositores. Talvez, quem sabe, a “vivência” de Bolsonaro, por ele invocada para levar ao caminho da ossada do pai de Felipe Santa Cruz, possa mostrar também o caminho de quem colocou a bomba na sede dessa mesma OAB, que ele tanto odeia, em 1980, e que matou a funcionária Lyda Monteiro da Silva. Talvez a “vivência” de Bolsonaro também possa esclarecer mais detalhes sobre o malogrado atentado terrorista ao Riocentro, em 1981. Talvez ele possa informar também onde foram parar aqueles que pereceram na “Ponta da Praia”, para onde, no ano passado, disse que enviaria seus opositores. Ou, quem sabe, daqueles assassinados pelo torturador Ustra, que ele sempre homenageou.

As declarações de Bolsonaro, mais uma vez, merecem todo repúdio de qualquer pessoa com um mínimo de compromisso com a democracia. Até setores políticos da direita que apoiaram Bolsonaro (como, por exemplo, João Doria) repeliram a declaração odiosa, fascista e criminosa de um tal “mito” que, desgraçadamente, é realidade. Já podemos até ver indícios, talvez, de transtornos mentais em Bolsonaro e já houve quem dissesse que seu problema não é nem de impeachment e sim de interdição. Enquanto isso, seria bom que Bolsonaro indicasse o “caminho dos ossos” àqueles que ele chamou de “cachorros”.

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