“A gente polarizou, e era fácil e gostoso polarizar. Quando começaram a proliferar as camisetas do Bolsonaro e as pessoas diziam “mito, mito”, a ideia de infalibilidade dele, muito foi porque ajudamos a destampar uma caixa de Pandora de um discurso polarizado.” (Renan Santos, coordenador nacional do MBL, em entrevista publicada na Folha de São Paulo de 28 de julho de 2019).
O MBL (Movimento Brasil Livre), a quem Sérgio Moro chamou de “tontos” admitiu, em entrevista de seu coordenador nacional, Renan Santos, concedida à Folha de São Paulo, o exagero pelo discurso radical do movimento, que teria contribuído, segundo suas palavras, para a abertura da “caixa de Pandora de um discurso polarizado.” Movimento político de direita, o MBL esteve com João Doria, Flávio Rocha (o dono da Riachuelo) e, finalmente, acabou entrando na onda bolsonarista “contra a corrupção e a mamata”, embora não tenha ido às ruas contra Temer. Eles agora reconhecem, embora tardiamente que, no fundo, foram massa de manobra da extrema-direita fascista. Agora, através da fala de seu coordenador nacional, o movimento direitista reconhece ter contribuído para o clima de polarização de forma exagerada. Disse Renan Santos:
“Nós criamos os estímulos da polarização, e esses estímulos podem ser usados contra nós mesmos.”
Surgido com a finalidade de apoiar o golpe que tirou Dilma e levou Temer ao poder, o MBL admite, hoje, ter sido um erro o apoio a Bolsonaro. Porém, ao mesmo tempo, há outra coisa, admitida na entrevista do coordenador nacional do MBL, que merece um comentário à parte. Mesmo tendo reconhecido que foi um erro o apoio a Bolsonaro, Renan Santos acrescenta “que não havia o que fazer. Se o PT chegasse ao poder, a gente teria guerra civil. A classe média e o centro-sul não iriam aceitar o resultado.”
“Se o PT chegasse ao poder, a gente teria guerra civil…” Então, o MBL admite que haveria um golpe em caso de vitória do PT o que, aliás, já era claramente falado pelo próprio Bolsonaro, ao dizer reiteradas vezes que “não aceitaria outro resultado que não fosse a sua própria vitória.” Ou seja, o MBL sabia exatamente quem era a ameaça para a democracia naquele momento e ainda assim apostou nessa ameaça e agora dá uma de “corno arrependido”. Quem pegaria em armas em caso de vitória petista? Quem eram, afinal, os radicais? Aliás, o PT perdeu a eleição presidencial e em momento algum falou em golpe ou guerra civil. O MBL sabe que, em sua atuação, com seu ódio radical e sua polarização “gostosa” e exagerada, acabou vendendo a democracia. Agora, faz a mea culpa.
Mas, além dos “tontos”, outros ainda devem fazer suas confissões. Os grandes veículos da imprensa, especialmente as Organizações Globo, exageraram nas covardes matérias em que esgarçavam o PT, Lula e Dilma, ao mesmo tempo que poupavam tucanos. Que fossem denunciados os escândalos de corrupção, mas de forma equânime. Até na absurda condução coercitiva de Lula, que jamais havia sido intimado a depor, a Globonews estava na porta do ex-Presidente antes mesmo da Polícia Federal e “ganhou o dia”. Só para darmos um único exemplo do modo como a mídia global queria fazer o povo crer que a corrupção era uma praga exclusiva da esquerda, todos os veículos da Globo sempre falavam em “mensalão do PT”. Mas quando a referência era ao mensalão do PSDB, usavam a expressão “mensalão mineiro”. Hoje eles sabem que, ao exagerarem, acabaram deixando abrir a “caixa de Pandora” e também amargam muitos de seus males. Perguntem à Miriam Leitão. Aos poucos, aqueles que ajudaram a destruir grande parte da democracia e que agora sentem na pele os retrocessos, vão dando as caras para o compromisso com a verdade. Muitos já estão até com vergonha de como entrarão para a história por terem, assim como o MBL, ajudado a abrir a “caixa de Pandora” e deixado as tragédias e os males virem à tona. Lembrando que a “caixa de Pandora” é um “mito“. Alguma semelhança?