“Isso é um pepino pra mim. É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a LJ), porque dei palestra remunerada para a Neoway…” (Deltan Dallagnol, em conversa com procuradores, após a palestra que deu para a Neoway).
Deltan Dallagnol, o “granero” da Lava Jato, tinha tanta consciência dos crimes que praticava que tratou logo de achar um eufemismo para suas ações ilegais e criminosas. Então disse, em conversa com colegas procuradores, que dar palestras para uma empresa investigada pela Lava Jato seria um “pepino”. O pepino, senhor Dallagnol, tem outra denominação: é crime!
Parece que as funções cruciais da Lava Jato estavam divididas. Isso, ao menos, é o que mostram as revelações das conversas, especialmente de Moro e Dallagnol. Enquanto Moro, travestido de “juiz”, era o chefe da acusação e tinha como subordinados uma parte do Ministério Público, especialmente Dallagnol, o “doutor” Deltan era aquele que via na operação um meio de capitalizar o maior lucro possível: abrir empresa, dar palestras (inclusive de forma clandestina a banqueiros), administrar um fundo bilionário…
Porém, os diálogos publicados pelo The Intercept e outros veículos mostram que o envolvimento de Deltan era muito maior e a promiscuidade atingia um nível absurdo. Deltan Dallagnol, não satisfeito em ser palestrante remunerado de uma empresa investigada na Lava Jato, também atuou como lobista dessa empresa.
Em relação à palestra remunerada, Deltan chegou a comemorar, sem nenhum escrúpulo, o convite que recebeu da Neoway. Disse Deltan:
“Olhem que legal. Sexta vou dar palestra para a Neoway, do Jaime de Paula [presidente da empresa]. Vejam a história dele: [link para texto sobre Jaime de Paula]. A neoway é empresa de soluções de big data que atende 500 grandes empresas, incluindo grandes bancos etc”
O interlocutor de Dallagnol no diálogo, o também procurador Júlio Noronha, chegou a incentivar Deltan para que marcasse uma reunião com o presidente da empresa, a fim de contratar os seus serviços. Deltan não apenas concordou como disse que iria, em sua palestra, “sensibilizar” o presidente da Neoway:
“Exatamente. Isso em que estava no meu plano. Vou até citar ele na palestra pra ver se sensibilizo kkkk”.
“Pepino” é pouco para expressar a promiscuidade das relações entre um procurador, chefe da força-tarefa que investiga corrupção em empresas, ser remunerado por uma empresa investigada e ainda atuar como lobista dessa empresa. O “pepino”, senhor Dallagnol, é muito mais em baixo. Porque o “pepino” é crime!