MENDES 70 ANOS – PARTE I – OS PRIMEIROS TEMPOS (1949-1964)

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Na foto acima, de 1951, alunas do Mendes de Moraes com o uniforme de Educação Física da época e a professora Amália Watson Von Windheim. Foto: acervo da Secretaria do CEPMM, cedida por Márcia Cristina Machado.

“Os homens não foram feitos para as instituições, mas as instituições para os homens.” (Professor Álvaro Moutinho Neiva, primeiro diretor do Colégio Mendes de Moraes, em entrevista ao “Correio da Manhã”, 1950).

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Acima: o calendário de 1949, ano de fundação do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes. Fonte: jogral.com.br

Em 1949 o mundo vivia os primeiros anos do fantasma da “Guerra Fria” e, no Brasil, o Presidente da República Eurico Gaspar Dutra entrava no seu quarto ano de mandato, conquistado nas eleições de 1945, logo após o fim do Estado Novo de Vargas. O Brasil voltava a ter uma Constituição de caráter liberal (a de 1946) e nosso país viveria um período de intensa atividade política e partidária, que seria interrompido com o golpe civil-militar de 1964. Em 1949 a moeda brasileira era o cruzeiro, padrão monetário adotado em 1942 por Getúlio Vargas durante o Estado Novo, e que vigoraria até 1967, quando foi substituído pelo cruzeiro novo.

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Imagem acima: A moeda brasileira em 1949, ano de fundação do Colégio Mendes de Moraes, era o cruzeiro, criada por Getúlio Vargas em 1942. Foto: RCCB Coleções.

Naquele ano de 1949, a cidade do Rio de Janeiro ostentava o status político de Distrito Federal, status este adquirido com a proclamação da República em 1889. Como capital do país, o Rio de Janeiro era o centro das decisões políticas e o Palácio do Catete, símbolo do poder, cinco anos depois seria o palco de uma das maiores tragédias da história republicana brasileira: o suicídio de Getúlio Vargas. E nunca é demais lembrar que Mendes de Moraes, em 1954, foi um dos signatários do manifesto dos militares que exigiam a renúncia de Getúlio.

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Acima: a bandeira do então Distrito Federal, que correspondia ao atual município do Rio de Janeiro e que foi governado pelo prefeito Mendes de Moraes entre 1947 e 1951. Em 1960, com a inauguração de Brasília, o antigo distrito Federal daria origem ao Estado da Guanabara.

Na condição de Distrito Federal, o Rio de Janeiro não possuía autonomia política e a então capital federal era administrada por um prefeito nomeado pelo Presidente da República.  E o Presidente Eurico Dutra havia nomeado, em 1947, o general Ângelo Mendes de Moraes para prefeito do então Distrito Federal. O Rio de Janeiro, capital da República, preparava-se para sediar a Copa do Mundo de 1950 e, para isso, na gestão do prefeito Mendes de Moraes, as obras do estádio do Maracanã já se realizavam desde 1948. Mendes de Moraes inauguraria, em 1950, o estádio que, por muito tempo, foi o maior do mundo e que seria calado pelo gol de Ghiggia no dia 16 de julho de 1950 diante de 200 mil pessoas.

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Imagem acima: mapa mural do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1949, apresentando o relevo e a hidrografia, elaborado na administração do prefeito Mendes de Moraes. Imagem: Arquivo Nacional.

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Foto acima: a construção do estádio do Maracanã para a Copa de 1950 foi a grande obra que marcou o governo do prefeito Mendes de Moraes. A construção do estádio teve início em 1948 e a inauguração ocorreu em 1950. Antes de inaugurar o estádio, porém, o prefeito inaugurou, em 8 de junho de 1949, o colégio na Ilha do Governador que leva o seu nome. Foto: Diário do Rio.

Um detalhe, entretanto, que talvez poucas pessoas saibam, é que o estádio do Maracanã iria chamar-se “Estádio Prefeito Mendes de Moraes”. Havia até um forte lobby para que o prefeito, que já era nome de colégio na Ilha do Governador, também fosse homenageado com o nome do estádio. Alguns jornais e emissoras de rádio, inclusive, mencionavam “Estádio Mendes de Moraes”, mesmo com o estádio ainda não tendo um nome oficial. Tudo leva a crer que era uma “forçada de barra” do prefeito e sabe-se ainda que a própria assessoria de Mendes de Moraes estaria por trás dessa campanha. No entanto, o nome oficial do Maracanã acabaria recaindo sobre o jornalista Mário Filho, um dos grandes incentivadores da construção do estádio. E o nome oficial só seria dado em 1966, pouco depois da morte de Mário Filho. Assim, o prefeito Mendes de Moraes emprestaria seu nome apenas ao colégio. Se o prefeito Mendes de Moraes era vaidoso, não podemos afirmar. Mas, como todo político, certamente iria querer que seu nome fosse divulgado. Se isso for verdade, então foi melhor para ele ter sido o nome do colégio do que do estádio. Isso porque, ao que sabemos, ninguém se refere a um estádio de futebol pelo seu nome oficial. “Maracanã” não é o único exemplo. Se servir de algum consolo, “Prefeito Mendes de Moraes” também é o nome de uma avenida no bairro de São Conrado. De qualquer modo, a família “Mendes de Moraes” acabaria sendo bem homenageada. Isso porque há uma interessante coincidência. Será mesmo coincidência? É que, nesse mesmo ano de 1949, também era inaugurada no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, a escola “Deborah Mendes de Moraes”, uma homenagem à esposa do prefeito. Tudo no mesmo ano. Só que a Escola Deborah Mendes de Moraes fica em Pedra de Guaratiba, a aproximadamente 70 quilômetros da Ilha do Governador. Deixaram marido e mulher bem longe um do outro…

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Imagem acima: Edgar Proença, em sua coluna no Jornal dos Sports, defende de forma declarada que o nome do estádio do Maracanã fosse “Estádio Mendes de Moraes”. Tudo leva a crer que a assessoria do prefeito estivesse por trás da campanha feita pela imprensa. No final, ele seria mesmo é o nome do colégio na Ilha do Governador e também de uma avenida em São Conrado.  Note-se a grafia “Morais”, ao invés de “Moraes”. (Reprodução de página do Jornal dos Sports de 18 de junho de 1950). 

Mas no dia do fatídico jogo com o Uruguai, Mendes de Moraes proferiu um discurso infeliz, ao dirigir-se ao time do Brasil “saudando os vencedores” antes mesmo do jogo começar. Isso, segundo contam, parece ter mexido com o brio dos uruguaios. Apesar de o empate dar o título da Copa de 1950 ao Brasil, perdemos por 2 a 1. Na saída do jogo, não foi registrado qualquer tumulto ou briga, apesar da consternação geral. Porém, um fato merece menção: o busto de granito do prefeito Mendes de Moraes que existia no estádio havia sido derrubado. Teria sido por causa da ira de alguns torcedores pela “injeção de ânimo” que o prefeito havia dado aos uruguaios em seu infeliz discurso?

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Foto acima: o gol de Ghiggia, que deu a vitória e a Copa de 1950 ao Uruguai, calando 200 mil pessoas no Maracanã. E o prefeito Mendes de Moraes estava no estádio. O discurso de Mendes de Moraes, cantando vitória antes do tempo, teria mexido com o brio dos uruguaios. Foto: UOL Esporte. 

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Na foto acima: O prefeito Mendes de Moraes (à direita) na inauguração do Maracanã, em 1950, vendo-se ainda o Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara e o Presidente da República Eurico Dutra, que o nomeou prefeito, cargo que Mendes de Moraes ocupou entre 1947 e 1951. Mendes de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 1894 e viria a falecer no ano de 1990, com 95 anos de idade. Foto: “Nossos Vizinhos Ilustres”.

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Foto acima: o lançamento, em 1948, da pedra fundamental para a construção do Colégio Mendes de Moraes, com a presença do prefeito e do Presidente da República Eurico Gaspar Dutra. Foto: Arquivo Nacional. 

Porém, pouco antes de inaugurar o Maracanã, o prefeito teve um outro compromisso. No dia 8 de junho de 1949, uma quarta-feira, o prefeito de Mendes de Moraes foi até o bairro da Freguesia, na Ilha do Governador, inaugurar um colégio que receberia o seu próprio nome. Ressalte-se que a fundação do colégio coincide com a inauguração da hoje denominada “ponte velha”, que havia sido inaugurada no final de janeiro daquele mesmo ano, possibilitando a ligação da Ilha do Governador ao continente. A construção da ponte ligando o continente à Ilha atenderia às demandas do próprio crescimento da Ilha do Governador e das instalações de bases militares no local.  Evidentemente, com o acesso à Ilha do Governador sendo facilitado com a ponte, um colégio naquele local seria de grande valia. Até porque, com o passar do tempo, o colégio não atenderia apenas a alunos da Ilha do Governador. Assim, podemos perceber que a inauguração da ponte e do Colégio Mendes de Moraes, no mesmo ano de 1949,  acabariam se complementando.

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Foto acima: a tesoura com a qual o prefeito Mendes de Moraes cortou a fita inaugural do colégio é uma relíquia até hoje preservada em local de destaque na vitrine de troféus do colégio. Foto: arquivo CEPMM.

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Foto acima: vista panorâmica do Colégio Mendes de Moraes em 1949, ano de sua inauguração. foto: acervo digital de Jaime Moraes.

As obras para a construção do colégio tiveram início em maio de 1948. Quando foi inaugurado, em 8 de junho de 1949, o colégio possuía 9 salas de aula, um laboratório de Ciências, oficinas de encadernação e marcenaria, um refeitório e um consultório médico e dentário. Para a construção do colégio, uma grande área teve que ser aterrada e um pequeno rio que passava no local, canalizado.

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Na foto acima: O Colégio Mendes de Moraes em 1949, ano de sua fundação. Note-se que uma vasta área livre ladeava o colégio e ainda não existia a casa de nossa amiga Nancy, vizinha do colégio. Foto: acervo digital de Jaime Moraes.

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A foto acima, de 1948, mostra a construção da Ponte do Galeão, que ligaria a Ilha do Governador ao continente. A ponte seria inaugurada no mesmo ano de fundação do Colégio Mendes de Moraes: 1949. Foto: Ilha do Governador – O Passado no Presente – UOL Fotoblog.

Na época da inauguração do colégio, vigorava no Brasil a reforma de ensino que havia sido feita pelo ministro Gustavo Capanema, ainda na Era Vargas, dividindo o ensino em primário, ginasial e colegial, sendo este último subdividido em científico e clássico. O antigo colegial equivaleria ao atual ensino médio e o Colégio Mendes de Moraes tornaria-se o primeiro estabelecimento oficial de ensino ginasial e, também, de ensino médio da Ilha do Governador. Em 1949, quando foi inaugurado com o nome de “Ginásio Municipal Prefeito Mendes de Moraes”, o colégio não abriu turmas regulares, apenas um preparatório para o admissão, que era a antiga prova de acesso ao curso ginasial. Até porque a inauguração do colégio ocorreu no meio do ano letivo.

Há, no entanto, uma “curiosidade politiqueira” envolvendo a inauguração do Colégio Mendes de Moraes. Isso porque, no dia 17 de dezembro de 1949, um sábado, o prefeito Mendes de Moraes retornou ao colégio para realizar uma “segunda solenidade de inauguração”. A motivação política desta outra solenidade era evidente: no ano seguinte, haveria eleição para Presidente da República. O Presidente da República, Eurico Dutra, que já havia comparecido à solenidade de lançamento da pedra fundamental, novamente esteve presente. Certamente o único Presidente da República que esteve no Colégio Mendes de Moraes. A estratégia politiqueira da dupla, entretanto, fracassou. Isso porque, em 1950, Getúlio Vargas, do PTB, seria eleito Presidente da República derrotando, dentre outros, o candidato Cristiano Machado, do PSD, partido de Dutra.

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Foto acima: o Presidente da República Eurico Dutra esteve no Colégio Mendes de Moraes para uma segunda solenidade de inauguração no dia 17 de dezembro de 1949. Foi uma jogada “politiqueira”, visto que no ano seguinte ocorreriam eleições no país. Foto: Arquivo Nacional.

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Foto acima: o prefeito Mendes de Moraes discursa diante do Presidente da República Eurico Dutra na segunda solenidade de inauguração do colégio em 17 de dezembro de 1949. O local onde estão o Presidente Dutra e o prefeito Mendes de Moraes é exatamente onde hoje encontra-se a panóplia das bandeiras, na entrada do colégio. Foto: Arquivo Nacional.

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Foto acima: No dia 14 de agosto de 1952, Mendes de Moraes já não era mais o prefeito e foi recebido, junto com outros generais recém-promovidos, pelo Presidente Getúlio Vargas no Palácio do Catete. Dois anos depois, Mendes de Moraes assinaria o manifesto dos militares que exigia a renúncia do Presidente Vargas. Foto: Arquivo Nacional.

Foi só em 1950 que as atividades do Ginásio Municipal Mendes de Moraes efetivamente tiveram início e com a existência apenas do turno da manhã, onde contava com 65 alunos de preparatório e 12 alunos do curso ginasial. Seu primeiro diretor foi o professor Álvaro Moutinho Neiva, que permaneceu no cargo até 1951, quando assumiu interinamente a direção o professor Geth Jansen, mais tarde substituído por Walfrido Leocádio Freire.

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Foto acima: o professor Geth Jansen, segundo diretor da história do Colégio Mendes de Moraes no ano de 1951. O professor Geth jansen também ocuparia a direção entre 1957 e 1960. Foto: arquivo de Jaime Moraes.

A construção do Ginásio Mendes de Moraes foi de grande valia para a população insulana, visto que a Ilha do Governador não possuía, até então, estabelecimento de curso ginasial. Assim, antes da inauguração do colégio, as crianças que concluíssem o antigo curso primário tinham que estudar fora da Ilha. E numa época em que ainda não existia a ponte. Evidentemente, a apreensão dos pais era grande. Por esse motivo, a AMIG (Associação dos Moradores da Ilha do Governador), que existia desde 1946, fez um fortíssimo lobby para a construção do colégio e chegou até a contribuir, cedendo material de construção. Algo que atualmente chamaríamos de “parceria público-privada”. Com a pressão e o auxílio da AMIG, a obra ficou pronta em apenas um ano, surgindo assim o primeiro ginásio da Ilha do Governador.

Um artigo de Yvone Jean, intitulado “A escola ativa direta: a empolgante experiência do professor Álvaro Neiva e seus colaboradores”, publicado no jornal Correio da Manhã, em 24 de setembro de 1950, a partir de uma visita feita ao “Ginásio Mendes de Moraes”, fala sobre a rotina dos primeiros alunos do colégio: as aulas começavam sempre à 8 horas da manhã, exceto nos dias de “cultura física”, quando as atividades tinham início às 7 horas. Ao meio-dia vinha o recreio, seguido do almoço. A visitante fala, no artigo, das atividades que os alunos praticavam, como biblioteca, centro de civismo e artes plásticas. Naqueles primeiros tempos, as nove salas de aula não eram divididas por séries ou turmas e sim por disciplinas (aliás, uma reivindicação atual de muitos professores). Assim, existia a sala de Geografia, a sala de Francês, a sala de Latim, a sala de Matemática e assim por diante. A sala de Francês, por exemplo, era adornada com cartazes doados pela embaixada e por companhias aéreas. Já na sala de Geografia existia o que se chamava de “mapa vivo”. Nesse tipo de mapa, os alunos traziam recortes de notícias de jornais e as colavam em seus respectivos lugares no mapa. No dia da reportagem do Correio da Manhã, o “mapa vivo” mostrava, por exemplo, a Guerra da Coreia (que começou exatamente naquele ano de 1950) e um tufão no Japão. Na época, conforme é relatado no artigo, o então “Ginásio Mendes de Moraes” vivia o que se chamava de “experiência ativa direta”, em que existiam inclusive as “patrulhas” masculinas e femininas, que tinham como base o escotismo, o espírito de equipe e as competições em grupo. Sabe-se, pela leitura do artigo, que o aluno Artur era o chefe das “patrulhas masculinas” e a aluna Marília, a chefe das “patrulhas femininas”. Em seus primeiros tempos de existência, o Mendes de Moraes já ganhava destaque nas páginas de um dos mais importantes jornais do Rio de Janeiro.

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Acima: reprodução da página 10 do jornal “Correio da Manhã”, de 24 de setembro de 1950, em sua edição de número 17.647, que fala sobre a “empolgante experiência” do primeiro diretor do Mendes de Moraes, Álvaro Neiva: a “escola ativa direta”. No artigo, podemos conhecer um pouco da rotina dos primeiros alunos do Mendes de Moraes.

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Foto acima: em detalhe da imagem anterior, alunas da primeira turma do Mendes de Moraes, em 1950, época em que as salas de aula eram dividias por disciplinas. Foto: jornal “Correio da Manhã”, 24 de setembro de 1950.

Foi em 1950 que os alunos do Ginásio Mendes de Moraes lançaram o jornal “O Maracajá”, nome dado em alusão a uma das denominações primitivas da Ilha do Governador. O jornal editado pelos alunos forneceria notícias sobre a Ilha do Governador e seria vendido ao preço de 1 cruzeiro. O primeiro número do jornal editado pelos alunos seria publicado na última semana de setembro de 1950, e traria a publicação de uma entrevista com uma então ilustre moradora da Ilha do Governador: a escritora Rachel de Querioz, insulana desde 1945. Pelo que sabemos, o primeiro número do “Maracajá” trouxe um “furo” na entrevista com a escritora: pela primeira vez seriam revelados os nomes dos cachorros da Rachel de Queiroz, até então desconhecidos. Disse o aluno Artur, o chefe das “patrulhas masculinas”, na entrevista ao Correio da Manhã:

“Sabe o que é Maracajá? É um gato bravo. E a Ilha tem a forma de um gato bravo. Maracajá era o nome primitivo da Ilha. Pois será o jornal da Ilha e será vendido a 1 cruzeiro.” (Correio da Manhã, 24 de setembro de 1950).

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Imagem acima: A Ilha do Governador teria a forma de um “maracajá” ou “gato bravo” e por isso “maracajá” foi um dos primeiros nomes da Ilha. Isso, segundo disse o aluno Artur em 1950, levou ao nome do primeiro jornal editado pelos alunos do Mendes de Moraes: “O Maracajá”. O primeiro número foi publicado na última semana de setembro de 1950. Fonte da imagem: riocomovamos.org.br

Em 1953, já sob a gestão do professor Álvaro Paes de Barros Filho, a primeira turma de ginasial concluiu o curso e, para que os estudos desses formandos tivessem sequência, foi criado o curso científico. Foi a partir desse ano de 1953 que o colégio passou a denominar-se  “Colégio Municipal Prefeito Mendes de Moraes” e o número de alunos pularia dos 65 iniciais para cerca de 300. A mudança do nome tinha uma razão evidente: o estabelecimento não seria apenas “ginásio”, mas passaria também a ter o colegial, oferecendo o curso científico.  Em 1955, já com 8 turmas do curso ginasial e 3 do científico, o corpo discente já contava com 350 alunos, com o colégio ainda funcionando somente no turno da manhã.

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Foto acima: o professor Álvaro Paes de Barros Filho, diretor do Mendes de Moraes no ano de 1953, quando formou-se a primeira turma do ginasial do colégio. Foto: arquivo de Jaime Moraes.

Foi no ano de 1955 que originou-se o atual auditório do colégio, palco de inesquecíveis solenidades de formatura, eventos culturais, assembleias históricas, reuniões pedagógicas e festas. O atual auditório do colégio, na verdade, era uma quadra coberta, que foi adaptada para ser auditório no ano de 1955, ainda sob a gestão do diretor Álvaro Paes de Barros Filho.

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Foto acima: passeio ciclístico do Colégio Mendes de Moraes em 1954, organizado pelo professor de Educação Física João Vianna Barbosa de Castro, um dos primeiros docentes da história do colégio. Destaque para o muro do colégio, que ainda era baixo, e para os uniformes. Foto: acervo digital de Jaime Moraes.

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Foto acima: solenidade de formatura da turma do curso ginasial de 1957, realizada no auditório, que até 1955 era uma quadra coberta. Foto: Paulo Roberto M. de Souza, acervo digital de Jaime Moraes.

A partir de abril de 1960, assume a direção o professor José Lacerda de Araújo Feio, que permanece no cargo até março de 1961, quando o colégio já contava com 452 alunos.

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Foto acima: O professor José Lacerda de Araújo Feio, diretor do Colégio Mendes de Moraes entre 1960 e 1961. Foto: arquivo de Jaime Moraes.

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Na foto acima, de 1954, a entrada do Colégio Mendes de Moraes. O uniforme da época exigia calça comprida e gravata para os rapazes e vestido comprido para as moças. Foto de Antônio Leite Cruz, acervo digital de Jaime Moraes. 

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Na foto acima: os formandos do Curso Científico do Colégio Mendes de Moraes do ano de 1957. Foto: acervo digital de Jaime Moraes.


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Na foto acima: professores do Colégio Mendes de Moraes no ano de 1959. Foto: acervo digital de Jaime Moraes.

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Na foto acima: Turma do ano de 1960 do Colégio Mendes de Moraes. Nessa ocasião, as turmas eram organizadas por grupos masculino e feminino, acabando assim as turmas mistas. Foto de Ana Burlamaqui, acervo digital de Jaime Moraes.

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Na foto acima: Turma da segunda série do curso científico do Colégio Mendes de Moraes de 1960. Nessa época, o uso da camisa de manga comprida e gravata era obrigatório para os rapazes e o vestido comprido para as moças.  Foto: acervo digital de Jaime Moraes.

Em 1960, já no final do governo do Presidente Juscelino Kubitschek, o Rio de Janeiro deixa de ser o centro das decisões políticas do país, com a transferência da capital federal para Brasília. O território do antigo Distrito Federal passa então a formar uma outra unidade da Federação: o Estado da Guanabara. A Guanabara passava a ser o menor estado da Federação e teve como seu primeiro governador José Sette Câmara Filho. Na verdade era uma Cidade-Estado, visto que a nova unidade da Federação não possuía subdivisão municipal. Ou seja, era um estado formado por um só município. Assim, o nome do colégio permanecia como “Colégio Municipal Prefeito Mendes de Moraes”, embora já estivesse sob a administração do governo do novo Estado da Guanabara. Por isso, muitas escolas na época já se denominavam como “estaduais”. Porém, em 1975, com a fusão dos antigos estados da Guanabara e Rio de Janeiro, a antiga Guanabara passou a ser o município do Rio de Janeiro e tornou-se capital do novo estado e foi aí que algumas escolas passaram a ser municipais e outras estaduais.

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Foto acima: no dia 21 de abril de 1960, às 9 horas e 30 minutos, a nova capital, Brasília, era inaugurada. O Rio de Janeiro deixava de ser a capital federal e transformava-se no Estado da Guanabara, que teve como primeiro governador José Sette Câmara Filho. Foto: marciusmachadocientistapoliticoblogspot.

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Imagem acima: em 21 de abril de 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, o território do antigo Distrito Federal, destacado em vermelho, dá origem ao Estado da Guanabara e a partir de então o Colégio Mendes de Moraes irá tornar-se estadual. Com a fusão, em 1975, esta condição seria confirmada. Fonte da imagem: Wikipédia.

Via de regra, as escolas de primeiro grau (atual ensino fundamental) eram municipais, enquanto as de segundo grau (atual ensino médio) eram estaduais. Foi aí que o Mendes de Moraes, inequivocamente, tornou-se um colégio estadual. Lembrando ainda que a denominação “escola” geralmente era atribuída a estabelecimentos de primeiro grau, enquanto a denominação “colégio” era atribuída a estabelecimentos de segundo grau.

O início do ano letivo de 1962 mostrava que o Colégio Mendes de Moraes estava em franco crescimento. Sob a batuta da professora Maria Amélia dos Santos Penna, que havia assumido a direção no ano anterior, o Colégio Mendes de Moraes passaria a funcionar nos três turnos, contando com 40 turmas e um total de 1382 alunos matriculados. Uma medida adotada nessa época foi a formação das turmas por sexo, o que acabaria com as turmas mistas. A segregação sexual, no entanto, traria um desagrado geral.  O aumento da demanda trouxe a necessidade de obras de expansão, melhoria das instalações sanitárias e da secretaria.

Durante a gestão de Maria Amélia dos Santos Penna, o então governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, implantou nas escolas a disciplina “Estudos Sociais da Guanabara”. Lacerda instituiu a referida disciplina ainda na euforia do recém-criado Estado. Foi a partir desta disciplina que a diretora Maria Amélia idealizou um trabalho sobre a Ilha do Governador dentro da nova disciplina, valorizando a geografia e a história locais. Este trabalho da diretora Maria Amélia culminaria, em 1963, com a realização da Primeira Semana de Cultura, uma exposição realizada no colégio sobre a Ilha do Governador.

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Foto acima: professora Maria Amélia dos Santos Penna, diretora do Colégio Mendes de Moraes entre 1961 e 1965. Foi em sua gestão que o colégio passou a funcionar nos três turnos. Foto: arquivo de Jaime Moraes.

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Foto acima: turmas do ano de 1964 do Colégio Mendes de Moraes, época em que o colégio era dirigido pela professora Maria Amélia dos Santos Penna. Foto: Demóstenes Sarmento, arquivo de Jaime Moraes.

A inesperada renúncia do Presidente Jânio Quadros, ocorrida em agosto de 1961, abriu uma crise política no país, que foi “solucionada” com a adoção do sistema parlamentarista de governo. João Goulart, que havia assumido a Presidência, perdera poderes com o ardil golpista do parlamentarismo. Mas um plebiscito, em 1963, iria restituir-lhe os poderes. Militares, grupos e partidos conservadores e entreguistas, como a UDN do então governador do Estado da Guanabara Carlos Lacerda, e os interesses norte-americanos, estiveram à frente do golpe de Estado que derrubaria João Goulart, impondo no Brasil a ditadura militar.

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Foto acima: com o golpe militar de 1964 que derrubou o Presidente João Goulart e instalou a ditadura no Brasil, estudantes e professores foram alvos da repressão. E o Colégio Mendes de Moraes seria uma das resistências. Foto: Evandro Teixeira.

Tempos muito duros viriam pela frente e o ensino, o movimento estudantil e os professores seriam alvos de ataques e perseguição, exigindo-se forte resistência. E o Colégio Mendes de Moraes foi um dos protagonistas nessa resistência. Não podemos deixar de registrar que o próprio Mendes de Moraes apoiou o golpe que derrubou o Presidente João Goulart e instalou a ditadura militar no Brasil. E o colégio que leva o seu nome seria uma resistência a essa ditadura por ele apoiada. Certamente, Mendes de Moraes jamais imaginaria essa situação. Mas isso é assunto para o próximo capítulo.

PRÓXIMO CAPÍTULO: PARTE II – DA RESISTÊNCIA AO COLEGIADO (1964-1989).

 

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