“Você já se olhou no espelho?” (Jair Bolsonaro, de forma truculenta, em 27 de abril de 2019, a um jornalista que, educadamente, havia lhe perguntado sobre o veto à campanha publicitária do Banco do Brasil).
O lamentável episódio do veto à publicidade do Banco do Brasil, além de comprovar o viés fascista e racista de Jair Bolsonaro, também mostrou que aquela conversa de “neoliberalismo regressista”, que seria uma das palavras de ordem da “nova era” e de seus penduricalhos, também é um tremendo papo furado. Ser conservador nos costumes e liberal na economia nem sempre atenderá às chamadas exigências de um fetiche chamado “mercado”. E o Banco do Brasil, como instituição financeira, também deve estar no mercado. O objetivo da publicidade era atrair um público jovem, que possui determinadas características e isso certamente foi estudado pelo setor de marketing do banco. Basta ver que, nos bancos e empresas privadas, suas publicidades têm atentado a esse aspecto muito simples: atingir todas as camadas da sociedade, atingir a diversidade e, em especial, um público mais jovem.
O veto de Bolsonaro à publicidade teve como justificativa a sua agenda conservadora. E ele chegou ao cúmulo de dizer que não gostou do anúncio porque “temos família” (sic!). Ele ainda falou que estava “defendendo a maioria da população brasileira” (sic outra vez!).
Atores e atrizes negros foram vetados, atores com tatuagens foram vetados. E ele diz que “temos família”. Já passamos, faz tempo, daquela época que diziam que tatuagem era coisa de bandido. E Bolsonaro sabe disso, porque muitos coxinhas que votaram nele e ainda o apoiam usam tatuagem. Há também, por incrível que possa parecer, negros que votaram em Bolsonaro. Será que os coxinhas tatuados e os negros reacionários não possuem família? Será que o jornalista a quem Bolsonaro mandou se olhar no espelho é negro ou tatuado?
Estou começando a chegar a uma conclusão: Bolsonaro não precisa fazer ou dizer mais nada para provar que é racista. Ele é racista mesmo e isso não se discute. Agora, vetar uma publicidade de um banco estatal, que tinha por finalidade usar a diversidade para atrair clientes de outros estratos da sociedade, aí a coisa já não é só racismo. Porque o próprio Bolsonaro sabe que chamá-lo de racista é chover no molhado e ele, para sempre, carregará essa marca. Ele já não se importa mais. No entanto, a conclusão à qual chegamos é que uma publicidade do Banco do Brasil, baseada na diversidade e com predomínio de pessoas negras, é algo que captaria mais clientes para o banco. E aí vem aquela pergunta: e os bancos privados? Sim, porque enquanto Bolsonaro veta peças publicitárias do banco que é “do Brasil”, os bancos privados estão baseando suas publicidades exatamente naquilo que Bolsonaro vetou. E ganhando clientes jovens, negros, tatuados, transsexuais… E tenham a certeza de que os donos do Itaú, do Bradesco, do Santander também possuem família, assim como Bolsonaro. Mas eles querem clientes de todos os segmentos sociais. Basta ver as publicidades desses bancos privados, que vocês verão tudo o que Bolsonaro não quis ver no vídeo publicitário do Banco do Brasil. E não era apenas o fantasma da Marielle.
O racismo bolsonarista agora chegou ao mercado. Já que Bolsonaro não quer, os bancos privados querem aqueles clientes que eram focados na propaganda censurada pelo fascista. É o racismo bolsonarista a serviço dos bancos privados, do mercado financeiro. E o Banco do Brasil que se exploda. Os bancos privados agradecem mais uma vez a Bolsonaro pelo veto porque eles querem esses clientes para eles. Pela reforma da previdência ainda vão ter que esperar um pouco. Isso se ela vier mesmo. Mas aí já é outro assunto. Enquanto isso, vejam o que os bancos privados exibem em seus anúncios: