A tragédia na comunidade da Muzema podia ser impedida. Como outras ainda poderão ser. E por vários agentes públicos, dentro de suas respectivas atribuições legais. Incluindo-se aí o Poder Judiciário. A desembargadora Marília de Castro Neves, muito conhecida nas redes sociais por ser uma militante de direita defensora de Bolsonaro e ter difamado a vereadora Marielle Franco logo após o seu assassinato, dizendo que Marielle tinha ligações com traficantes do Comando Vermelho, usou de sua poderosa caneta para impedir a demolição de prédios irregulares na região controlada e dominada por milicianos. Milicianos esses, como sempre, já homenageados por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa.
Todos sabem, a começar pelos seus moradores, que os prédios são irregulares. Todos sabem, por fotos e notícias através de vários veículos, que as construções não possuem sequer engenheiros responsáveis. Todos sabem, a começar pelos “corretores”, que nada ali é legal e que os preços convidativos dos imóveis são altamente suspeitos. E todos sabem, entre outras coisas, que as as obras são feitas a partir da grilagem de terras. Só a doutora Marília não sabia?
A desembargadora bolsonarista afirmou, em um de seus despachos, que a demolição era irreversível. Se era “irreversível”, por que esperar? Talvez, para ela, as vidas perdidas nos prédios que já caíram então sejam “reversíveis”. A excelentíssima doutora Marília sabe muito bem quem foram os grandes beneficiários de suas decisões. E com certeza não foram os moradores. Nem a nossa cidade, outrora maravilhosa. Os “donos do pedaço”, que ela sabe muito bem quem são, agradecem.