80 TIROS E AS “MÃOS AMIGAS”

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militares fuzilam família

Crédito da imagem: Pxeira, Site “Humor Político – Rir Prá Não Chorar”.

“Foram diversos, diversos disparos de arma de fogo efetuados, e tudo indica que os militares realmente confundiram o veículo com um veículo de bandidos. Mas neste veículo estava uma família. Não foi encontrada nenhuma arma [no carro]. Tudo que foi apurado era que realmente era uma família normal, de bem, que acabou sendo vítima dos militares.” (Leonardo Salgado, delegado da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, em 8 de abril de 2019).

“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República…” (Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 142).

As mãos não foram amigas. E os braços foram muito fortes contra os mesmos: negros e moradores dos subúrbios. Foram 80 tiros. E, inevitavelmente, vem a pergunta: o Exército está mesmo preparado para fazer a segurança pública? E nem pensemos, como já insinuou Bolsonaro, em tentar invadir ou entrar em uma guerra contra a Venezuela. E nem chamar o Hamas para a briga, como fez o seu filho débil mental. Porque, se um Exército precisa dar 80 tiros para matar apenas uma pessoa, e ainda por cima desarmada, é porque não temos condições de enfrentar sequer uma turba armada de atiradeiras.

Evaldo dos Santos Rosa, músico, estava na companhia de sua família. Desarmado. Pessoa de bem o do bem. Os absurdos, inacreditáveis e vergonhosos 80 disparos dos soldados do Exército poderiam ter feito mais vítimas. A bordo do carro estavam, além do músico executado, sua esposa, seu sogro, seu filho de 7 anos e uma amiga. A perícia feita pela Polícia Civil no local concluiu que o carro foi confundido. Nenhuma arma foi encontrada no veículo.

Não dá para dissociar a barbaridade cometida pelos militares do momento que vivemos. Há uma exaltação aos tiros, ao “abate”, ao armamentismo irracional. Há uma obsessão oficial pela militarização,  inclusive nas escolas. Até o Supremo Tribunal Federal já foi militarizado. A nova legislação, alterada no governo golpista de Temer, transfere para o âmbito da Justiça Militar os delitos dolosos contra a vida (leia-se: assassinatos) cometidos por militares das Forças Armadas contra civis. Assim, não haverá mais a continuação dos trabalhos da Polícia Civil. E muito menos júri popular. Os militares continuarão julgando militares. Mesmo em tempos de paz. A “licença para matar” de dar inveja a qualquer 007 está implementada. O que esperar da Justiça Militar? Haverá transparência no processo? Haverá corporativismo?  E a responsabilidade do comandante da operação que resultou na execução? O Comando Militar do Leste deve mais do que um pedido de desculpas à sociedade. Deve isenção, transparência e compromisso com a verdade. Porque sabemos que há um grande número de bons militares.  O que muda é a orientação de um governo. Até porque, pela Constituição, a autoridade suprema das Forças Armadas cabe ao Presidente da República. E não adianta culpar apenas os soldados. Eles certamente seguiram ordens de um oficial. Alguém comandou e ordenou.

Os 80 tiros disparados para matar mais um cidadão de bem, negro e suburbano colocam o Exército Brasileiro em alerta. Que os braços da Justiça Militar sejam fortes, e não amigos ou corporativos contra os responsáveis. A lamentar ainda o silêncio sepulcral do Ministro da Justiça, o político Sérgio Moro, sobre o deplorável episódio. Que a justiça não sangre!

 

 

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