O GENOCIDA QUE AMAVA

pinochet e gusmán

“Te amo com toda minha alma e torturaria comunistas só para te ver sorrir.” (Carta do ditador chileno Augusto Pinochet, para seu grande amor, o advogado Jaime Gusmán, datada de 15 de junho de 1983).

Uma das ditaduras mais brutais e sanguinárias da América, a ditadura Pinochet, no Chile, ganhou um ingrediente até então desconhecido: em meio às matanças de opositores ordenadas pelo ditador chileno, havia uma história de amor homoafetivo. Pinochet era apaixonado por Jaime Gusmán, um advogado, senador ultra-direitista e um dos fundadores da União Democrática Independente, que participou do golpe patrocinado pelos Estado Unidos que derrubou Salvador Allende, em 1973. Eles trocaram muitas cartas de amor. A notícia foi publicada no site “El Caminante” no dia 11 de janeiro. O link do site está disponibilizado abaixo:

https://elcaminantehn.com/2019/01/11/escandalo-libro-revela-cartas-de-amor-homosexual-entre-pinochet-y-jaime-guzman/

O caso de amor entre Pinochet e Jaime Gusmán foi revelado em um livro do historiador Lalo Landa, um dos mais respeitados do Chile. Landa teve acesso à farta documentação de missivas trocadas entre Pinochet e seu namorado. E, pelo teor de algumas delas, dá para perceber que Pinochet também matava opositores só para levar seu grande amor ao êxtase, já que matar comunista fazia seu namorado “sorrir”. Há cartas em que Pinochet assinava como “teu genocida.”

Em carta de 23 de março de 1983, Pinochet escrevia a seu grande amor:

“Sinto falta da sua pele, dos pequenos cabelos que saem das orelhas, até da sua barriga deformada… Lucia não me olha nos olhos como tu fazes…”

Em retribuição, Jaime Gusmán escrevia a Pinochet, em carta de 28 de março de 1983, chamando seu amado de “Hitler criollo”. Lembrando que “criollo” era a denominação dada, na época colonial, aos filhos de espanhóis nascidos na América, e ainda lamenta pela sociedade não compreender o amor de um pelo outro. Escreveu Jaime Gusmán:

“Meu Hitler criollo, eu gostaria que a sociedade fosse diferente para aceitar o nosso amor. Juntos poderíamos ser os donos do mundo. Algum dia se abrirão grandes alamedas, como eu me abri por você.”

Já em 15 de junho de 1983, o “genocida”, como ele próprio se intitulou, escrevia:

“Te amo com toda minha alma e torturaria comunistas só para te ver sorrir. Com carinho. Teu genocida.”

E, quatro dias depois, em 19 de junho de 1983, Jaime responde a Pinochet:

“Meu Deus, você me deixa louco… Estou interessado apenas em você. Em breve nos veremos e será como um tiro na cabeça. Sempre seu. Jaime.”

O namorado de Pinochet era tipo um “Golbery da ditadura chilena”. Ele foi um grande ideólogo de extrema direita que fascinou Pinochet sob todos os aspectos, a ponto de afirmar, em uma das cartas de amor, que sua esposa, Lucia Hiriart, não olhava em seus olhos como Jaime. O namorado de Pinochet foi assassinado em 1991 por um guerrilheiro chileno. Já Pinochet morreu em 2006, sem ter recebido nenhuma honra de chefe de Estado em seu funeral.

Longe de ser considerado um escândalo, como foi dito em alguns sites, em nosso entender a revelação das cartas de amor entre Pinochet e Jaime Gusmán permite-nos conjecturar o quanto o amor pode ter tido influência nas ações de Pinochet. Pelo menos durante algum tempo. “Matar comunistas só para te ver sorrir” é um exemplo claro dessa possibilidade. Apesar de tudo isso, o amor de Pinochet e seu namorado foi um “amor bandido”. Não por ser homossexual, evidentemente. Mas sim por ser um amor que certamente teve influência na morte de 30 mil pessoas e no desaparecimento de outras milhares. Só para não começarem a dizer, a partir da revelação das cartas, que “matar por amor é um mal menor do que matar por ideologia…”

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