“Portela eu nunca vi coisa mais bela
Quando ela pisa a passarela
E vai entrando na avenida
Parece a maravilha de aquarela que surgiu
O manto azul da padroeira do Brasil
Nossa Senhora Aparecida que vai se arrastando…”
(Trecho do samba-canção “Portela na Avenida”, composto por Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, inesquecivelmente interpretado por Clara Nunes, 1981).
Exatamente no dia 12 de outubro de 1995, quando comemorava-se o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, nosso país ficou marcado pela cena de um pastor da Igreja Universal chutando raivosamente a imagem de Nossa Senhora Aparecida. A Igreja Universal, um dos tentáculos basilares de apoio do governo Bolsonaro, há muito já disseminava ódio e intolerância. Mas, naquela época, vivíamos o primeiro ano do governo FHC e o fundamentalismo religioso ainda não era influente no governo. FHC apenas teve que se retratar, publicamente, e dizer que não era ateu, como havia afirmado 10 anos antes, o que resultou em uma derrota para Jânio Quadros na corrida à Prefeitura de São Paulo.
Hoje, a Ministra-Pastora Damares anunciou o início de uma “nova era”: “menino veste azul e menina veste rosa.” A mesma Ministra que afirmou ter visto Jesus na goiabeira, criou um novo estigma cromático. E o erro, proveniente da “gagueira metafísica”, poderá significar a execração, o ridículo, o anti-patriotismo, a recusa em se adaptar à “nova era”. Vermelho ninguém pode. Azul só meninos e rosa só meninas. A Pastora Damares, pelo que falou, não irá tolerar a padroeira de nosso país nessa “nova era”. O manto sagrado de Nossa Senhora é azul. Simplesmente porque o azul simboliza o céu. Mas Damares é evangélica e ela quer mais é que a Nossa Senhora se exploda. Oremos pelo manto sagrado. Oremos pela padroeira do Brasil. Oremos por Nossa Senhora Aparecida. Que Ela sobreviva à “nova era”!