A CONFISSÃO DO GENERAL

confissão do general“Eu reconheço que houve um episódio em que nós estivemos realmente no limite, que foi aquele tuíte da véspera da votação no Supremo da questão do Lula. Ali, nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse .” (General Villas Boas, comandante do Exército, em entrevista à Folha de São Paulo, em 11 de novembro de 2018).

Quando, no dia 3 de abril, véspera do julgamento do habeas-corpus preventivo de Lula, referente à prisão em segunda instância, o general Villas Boas mandou um recado ameaçador ao Supremo Tribunal Federal, muitos viam, na época, que era um absurdo dizer que o general estava ameaçando a Corte Máxima. No entanto, nunca tivemos dúvida de que houve mesmo uma clara ameaça. E é possível que a ameaça tenha se dirigido apenas à Ministra Rosa Weber, a “Ministra do voto dúbio”. Naquela ocasião, a decisão do Supremo poderia mudar os rumos eleitorais porque, mesmo não sendo candidato, a presença de Lula na campanha poderia significar a vitória do PT. O tuíte do general  foi postado menos de 24 horas antes do julgamento, exatamente às 20 horas e 39 minutos do dia 3 de setembro:

a confissão

E ontem, em uma entrevista publicada na Folha de São Paulo, o general Villas Boas acabou confessando que o tuíte ameaçador foi disparado porque eles “estavam no limite” e que “a coisa poderia fugir ao controle deles”. Pergunta-se ao general: Qual limite e qual controle? Limite de quê e controle de quê? Seria o controle do Supremo, do TSE, ou da campanha eleitoral de Bolsonaro?

O grande problema é que, passadas as eleições e com suas “missões” e “papéis” devidamente cumpridos, agora todos começam a admitir o que antes consideravam inconfessável. Depois das declarações do general em sua entrevista, temos todo o direito de considerar que o Supremo já estava tutelado pelos militares. Tanto que o general considera que sua fala foi determinante para “a coisa não fugir do controle”. E essa tutela parece ter sido chancelada por Dias Tóffoli. O Presidente  do STF nomeou para seu assessor o general da reserva Fernando Azevedo e Silva. A sugestão do assessor, não se espantem, foi do próprio general Villas Boas. E é bom lembrar que o general-assessor de Dias Tóffoli participou da equipe de campanha de Bolsonaro na formulação de propostas ao então candidato do PSL. Parece que, do dia 3 de abril até hoje, as coisas ficaram límpidas. O que houve agora, na declaração de Villas Boas, foi uma afirmação que ele não poderia deixar de admitir, a partir de premissas que levam à óbvia conclusão de que a ameaça ao Supremo foi sim uma das etapas “não ortodoxas” do processo eleitoral.

Claro que a ameaça do general foi uma usurpação de seu poder e, especialmente, de sua missão constitucional. Não houve defesa dos poderes constitucionais, como reza a Constituição, e sim uma grave ameaça a um poder constitucional. Ameaça essa que, para sempre, colocará sob suspeita a independência daquele poder em relação a uma decisão de grande importância para o país.

Depois da ameaça do general o Supremo, já devidamente capitulado, teve que engolir que bastava um cabo e um soldado para fechá-lo. E eu perguntaria se, desde o dia 3 de abri, ele está realmente aberto. Acho que, ali, ele foi fechado pelo general.

 

 

 

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