A UDN DE FARDA

udn de farda

“É inacreditável que estejamos novamente discutindo a posse do eleito, como em 1955, diante das ameaças da UDN de não permitir a posse de JK se ele ganhasse. Onde foi que nos perdemos?” (Jornalista Tereza Cruvinel, em artigo no Jornal do Brasil de 29 de setembro de 2018, página 2).

É inacreditável mas, desgraçadamente, é verdade. Faltando uma semana para aquela que será, sem dúvida, a mais importante eleição presidencial do Brasil, contamina-se o discurso do medo, da dúvida e do golpismo e ressurge a fatídica pergunta, que faz lembrar os tempos da golpista UDN e do golpista Carlos Lacerda: Será que o eleito tomará posse? Será que, no dia seguinte às eleições, teremos que preparar uma resistência ao golpe e garantir a posse daquele que foi escolhido pela vontade popular?

A ameaça ao pleito já vem de algum tempo. Desde os discursos intervencionistas-militaristas até a desconfiança das urnas eletrônicas por quem, até então, sempre foi eleito através delas e jamais as questionou. Ao dizer que as urnas não oferecem segurança e que o resultado poderá ser fraudado, Bolsonaro incita uma ação golpista em caso de derrota. Em recente entrevista na Rede Bandeirantes, disse ainda Bolsonaro que não aceitará outro resultado que não seja a sua vitória. Com que autoridade e com que lastro Bolsonaro desdenha e ameaça a democracia? Claro que ele tem muitos séquitos, mas podemos até duvidar de que a sua retaguarda para ameaçar o processo eleitoral e democrático venha apenas da turba fascista. Quem estará por trás dessa “preparação de terreno” para um eventual golpe? Haveriam militares, magistrados, partidos políticos, comprometidos com um respaldo em caso de “virada de mesa”? A “suspeita” das urnas por parte de Bolsonaro vem incentivando a tal ponto os tentáculos fascistas que, embora a notícia seja falsa, chegou-se a espalhar que o Exército iria auditar as urnas, hipótese já desmentida pelo Ministério da Defesa. Porém, isso não evitou que uma canal de extrema-direita no Youtube, chamado “Canal do Opressor”, tenha vibrado e postado um vídeo intitulado “Até que enfim! Exército vai dominar as urnas.” A obsessão de Bolsonaro é tão grande que ele chegou, ontem, a cometer um ato falho, ao dizer que “a maioria da população desconfia do voto impresso.

Chamou atenção a falta de uma reação mais incisiva por parte dos poderes da República às ameaças expressas de Bolsonaro. O Judiciário reagiu timidamente. O atual Presidente da Câmara dos Deputados não se pronunciou. Temer, muito menos. As reações às ameaças de Bolsonaro restringiram-se a alguns adversários e partidos.

Em 1955, Juscelino venceu a eleição. Mas Lacerda e a sua UDN golpista não aceitaram o resultado e queriam impedir a posse de JK. Então, chamaram o marechal e não o general. O marechal Henrique Teixeira Lott “colocou o bloco na rua” e garantiu a posse de Juscelino, respeitando a vontade popular e repelindo o golpe udenista-lacerdista. Precisamos, e muito, do Exército. Hoje, já não existem mais marechais. O último foi Waldemar Levy Cardoso, que morreu em 2009. Mas a Constituição atribui às Forças Armadas a garantia dos poderes constitucionais. E, constitucionalmente, um Presidente da República só pode emergir das urnas. O Brasil não aceitará mais “Lacerdas”, sejam eles de farda ou de paletó e gravata.

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