O general Golbery do Couto e e Silva foi o chefe da Casa Civil nos dois últimos governos da ditadura militar (Geisel e Figueiredo). Golbey pode ser considerado o grande ideólogo e estrategista dos governos militares. Seus golpes eram cirúrgicos, objetivos, frios. Enquanto a turma do “tiro, porrada e bomba” mandava enfiar a porrada nos comunistas; enquanto o próprio Presidente Figueiredo dizia que “prendia e arrebentava” e que “preferia o cheiro dos cavalos do que o cheiro do povo”, Golbery pensava em dar sobrevida à ditadura e também no futuro dos seus. Em 1977 os militares sabiam que o MDB, partido da oposição, venceria as eleições do ano seguinte. O jeito foi mudar as regras do jogo e criar os “senadores biônicos” para garantir a maioria da ARENA. E lá estava Golbery. Em 1979, quando o regime militar agonizava, Golbery teve participação importante na Lei da Anistia. Sabedor de que os assassinos e torturadores do regime militar, em um futuro poderiam estar nas mãos da Justiça, teve grande influência na elaboração da lei. Ela seria “ampla, geral e irrestrita”, mas não pela sua generosidade democrática e sim para salvar torturadores e assassinos. E não estamos falando de militares que mataram em combate com guerrilheiros e sim de militares que assassinaram jornalistas, professores, estudantes, operários e sindicalistas que jamais pegaram em armas. Ainda em 1979, visando dividir a oposição, Golbery elaborou a “reforma partidária”, que pulverizou a oposição, mudou o nome desgastado da ARENA para PDS e tornou o partido dos militares “o maior partido do Ocidente”, enquanto os oposicionistas, mordendo a isca, “festejavam” os novos partidos.
Temer é golpista como Golbery. É estrategista como Golbery. É frio, calculista e pensa no futuro, como pensava Golbery. Só que, ao invés de farda, veste o paletó e gravata. Constitucionalista, desde a primeira vez que elegeu-se Vice-Presidente na chapa de Dilma, o golpe rondava a Presidente eleita. Vitimizando-se, publicou uma carta à Dilma, que foi o primeiro recado. Chantagista, soube cooptar uma maioria parlamentar que apoiava o governo Dilma para voltar-se contra ela. Já no governo, poderia sofrer o mesmo golpe que aplicou. Rodrigo Maia não foi Presidente da República porque não quis. No auge do escândalo do diálogo subterrâneo com Joesley Batista, bastava Maia aceitar um dos muitos pedidos de impeachment contra Temer. Mas Temer soube enquadrar e colocar Maia nos eixos. E, no caso das denúncias da PGR, a compra de votos também entrou em campo. Liderando o governo mais corrupto e desmoralizado da história, calou, para sempre, os patos amarelos que foram às ruas pedir o fim da corrupção e a saída de Dilma.
Temer conseguiu fazer o impensável. Ele deu um verdadeiro golpe até nos militares. Ao decretar a intervenção na segurança do Rio de Janeiro, colocou os militares em uma verdadeira ratoeira, em uma medida que ganhou popularidade e não admitiu ser derrotado na reforma da previdência. A intervenção era urgente e não poderia esperar. Então, a Constituição não poderia ser alterada. Portanto, a reforma da previdência não foi votada. Assim, não houve derrota. Tudo graças à “redentora e magistral intervenção.” Mas, estejam certos: certamente ela voltará à pauta após as eleições. Será que os militares ainda não perceberam a “furada” em que foram atirados na “jogada de mestre” do Temer?
Agora, faltando menos de três meses para as eleições, ele golpeia o candidato de seu próprio partido, ao articular o apoio do “Centrão” a Alckmin, o seu verdadeiro candidato. Sabedor de que a candidatura de Henrique Meirelles é um delírio, ele participou ativamente do apoio dos partidos-penduricalhos que formam o “Centrão” a Alckmin, talvez o candidato da direita que tenha alguma chance de fazer frente ao capitão nazista. Mas o “Golbery sem farda” pensa além, muito além. Não se espantem se, no primeiro dia de janeiro de 2019, ele estiver passando a Presidência e, ato contínuo, tomar posse como Ministro. Isso se, no ínterim entre a eleição e a posse, o Congresso não votar uma lei que dê imunidade a ex-Presidentes! Quáquáquáquáquáquáquáquá!…