Hoje, em nossas “histórias do Carnaval”, falaremos dos sambas-enredo de protesto, especialmente do samba da Império Serrano de 1986, um ano depois do fim do regime militar. Era a hora do “troco”.
Que enredo contar ou contra o quê protestar? Em diversos momentos, os sambas-enredo transformaram-se em veículos de protesto contra os governos e tornaram-se os porta-vozes das aspirações populares. São diversos os exemplos. Sabe-se, inclusive, que durante o regime militar, o DOPS monitorava os ensaios das escolas de samba, preocupados com os conteúdos de seus “hinos”, que poderiam ser “subversivos”.
Em 1980, por exemplo, a Vila Isabel, com o enredo “Sonho de um sonho”, falava da “prisão sem tortura”. No ano seguinte, a Unidos da Tijuca, com o enredo “O que dá prá rir dá prá chorar”, falava da luta do herói Mitavaí, representando o povo oprimido, contra o monstro Macobeba, que simbolizava o dinheiro e o poder, em um enredo que preocupou a agonizante ditadura militar. E em 1985, a Caprichosos de Pilares, em “Por falar em saudade”, lembrava que “diretamente o povo escolhia o Presidente”, levando para a avenida a voz do povo que foi frustrada pela não aprovação da Emenda Dante de Oliveira pela Câmara dos Deputados no ano anterior.
Mas hoje eu quero destacar, dentre muitos, o samba da Império Serrano de 1986. A ditadura militar havia chegado ao fim um ano antes e o Brasil vivia a transição, com a Nova República do acidental e suspeito José Sarney, ferrenho defensor dos governos militares que chegou à Presidência com a trágica morte de Tancredo. A letra do samba “Eu quero” era bem clara: “Me dá o que é meu, foram vinte anos que alguém comeu…” A composição ainda deu o desconto de um ano para o regime militar que, na verdade, durou vinte e um anos. Era a hora do troco. Um povo nutrido, um país desenvolvido, chega de ganhar tão pouco, chega de covardia. Os versos eram verdadeiras palavras de ordem, por uma “nova ordem”. Mas depois de tudo isso, teríamos, logo a seguir, um “caçador de marajás” que confiscou a poupança do povo. Antes, tivesse o povo feito como a vovó do samba da Caprichosos de 1985 e guardado a poupança no colchão… Mas, vamos ao “hino” da Império Serrano de 1986, com sua letra e música:
Enredo: Eu Quero
Ano: 1986
Autores: Aluisio Machado, Luiz Carlos do Cavaco e Jorge Nóbrega
Etecetera e tal