Em 7 de setembro de 1822 o Brasil tornava-se, oficialmente, independente de Portugal. O “Grito do Ipiranga”, no entanto, não significou a independência para todos. A escravidão continuava. A grande maioria do povo não podia votar. As terras e todas as riquezas continuavam nas mãos dos mesmos. O ato “heroico” do príncipe português D. Pedro contemplava apenas os anseios de uma elite latifundiária e escravista que via seus interesses serem contrariados com a política colonial. Os testemunhos dos que acompanhavam a comitiva do príncipe são quase que unânimes ao dizerem que a “parada técnica” às margens do Rio Ipiranga teve como motivo uma necessidade fisiológica. Isso tem um grande simbolismo: ele cagou para o povo brasileiro. E isso ficaria muito claro nos seus 9 anos de governo, até ir embora em 1831 e tornar-se D. Pedro IV de Portugal. A Independência não alterou a estrutura social, econômica e política do Brasil que manteve, após o “7 de Setembro”, as heranças injustas da colonização.
Ao “Grito do Ipiranga” seguiram-se vários “Gritos dos Excluídos”, os gritos daqueles que queriam sim a independência, mas uma independência acompanhada de mudanças que levassem a uma sociedade justa. Como a Independência não tinha vindo para todos, não tardaram a surgir rebeliões, de norte a sul do país, daqueles que já eram excluídos desde a época colonial. Essas revoltas estenderiam-se por todo o Império e República, mostrando que a Independência era um processo: quando escravos lutavam pela sua liberdade; quando camponeses lutavam por terras; quando mulheres lutavam pelo sufrágio; quando trabalhadores lutavam por seus direitos… Em todos esses casos, a Independência estava sendo conquistada, com muitos deles dando suas vidas por uma sociedade mais justa.
Hoje, passados 197 anos do “Grito do Ipiranga”, outros “gritos” , não oficiais, ainda se ouvem na busca por um Brasil verdadeiramente livre e soberano. O grito dos trabalhadores contra os ataques a seus direitos conquistados; o grito dos estudantes por melhor ensino; o grito de negros e mulheres por uma verdadeira inclusão social; o grito das populações indígenas por suas terras e direitos; o grito do povo, de um modo geral, por respeito, justiça e dignidade. A todos esses gritos somam-se, hoje, o grito pelo fim da corrupção e pela devolução de um governo legítimo e que represente os interesses da maior parte do povo brasileiro.
Hoje édia 7 de Setembro. Que seja um dia de celebração mas, também, de reflexão. Reflexão porque é mais um dia para pensarmos do que para festejarmos. E também para agirmos. Principalmente contra aqueles que comemoram a Independência, mas insistem em querer quer a dignidade, os benefícios do que é produzido e o respeito, sejam exclusividade deles. Que seja um dia para lutarmos, cada vez mais, por uma independência para todos. Assim estaremos construindo a verdadeira ordem e o verdadeiro progresso.